quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

O que aprendi sobre o dinheiro no meio da “crise”

Quis a vida que hoje eu tivesse tempo (esse sim um tesouro!) para observar, das dores do mundo, as que andam afligindo EFETIVAMENTE boa parte das pessoas que conheço.

As que vivem no Brasil, pelo menos, e tem contas a pagar no final do mês (e não contam com o suporte de uma família abastada ou uma grana guardada para passar pela crise sem muitas mudanças) estão tendo que rebolar. Seja para preservar seus empregos, suas fontes de renda ou inventar outras, novas, porque “queimaram os barcos” por elas.

Eu não vou te dar dicas para ficar milionário em cinco passos porque a cada dia que passa estou mais convencida que nunca vou conseguir ganhar muito dinheiro se o preço a pagar por isso for explorar a boa fé das pessoas. Deste modo, só posso mesmo te dar dicas práticas sobre dois aspectos básicos em torno da dor da vez, de todos nós (ou pelo menos a maior parte de nós) atualmente.

Uma fala sobre modelo mental e outra sobre como buscar alternativas e promover ajustes no orçamento.

Prometo que vão ser dicas eficientes. Estou testando em minha própria vida e, garanto, se funcionam comigo podem funcionar com qualquer pessoa.

Primeiro sobre modelo mental.

A primeira informação que tenho registrada muito forte em minha memória sobre dinheiro, em minha vida, foi de um episódio que vivi na minha infância. Eu e minha irmã morávamos no interior da Bahia, na época, e estávamos brigando por causa de dinheiro. Uma merreca, provavelmente, para comprar bala. Nossa situação financeira, se você já leu meu livro já sabe, não era nada boa. Ainda assim, o que vem em minha mente toda vez que lembro dessa época, é o quanto meu falecido pai era desprendido com relação a dinheiro.

Prova disso foi esse episódio, marcante. Vendo-nos brigar meu pai foi no quarto, pegou a carteira com todo o salário que ele tinha recebido do mês inteiro, foi até a varanda do velho sobrado e JOGOU TUDO PELO AR. TODO O SALÁRIO DE UM MÊS INTEIRO. Quase morri. Ele disse que aquilo era papel, não tinha nenhuma importância, e duas irmãs jamais poderiam brigar por causa dele. Todo o pessoal, lá em baixo, saiu correndo catando os “pedaços de papel” que meu pai jogou pela janela...

Dinheiro, para o meu pai, era insignificante. Minha mente mestra absorveu esse modelo como verdade e, quando tive a oportunidade de ganhar mais dinheiro na vida, sendo reconhecida pelo meu trabalho, gastava esse dinheiro exatamente como meu pai o jogou da janela naquele dia: é papel, feito pra gastar! Pode levar, vento!

Demorou para eu me libertar desse padrão e aprender que dinheiro era, sim, algo importante, e eu o merecia – ter e guardar. Só não podia ficar refém dele, sempre procurei deixar claro quem manda em quem nessa relação. Achava que finalmente tinha encontrado o caminho do meio e estava pronta para abundância.

Não estava.

Ainda faltava fazer mais ajustes, entender o significado dessas crenças limitadoras instaladas em mim, ajustar meu canal do merecimento através do processo de Coaching e muita terapia.

Até chegar aqui. De onde te escrevo agora.

Agora vou falar sobre buscar alternativas e promover ajustes no orçamento.

Controlando os meus gastos e rebolando muito para sustentar a vida que eu escolhi, autônoma, trabalhando sem chefe e produzindo conteúdo relevante para pessoas, ensinando elas a encontrar também um caminho melhor para suas vidas.

Não ter uma carteira assinada, INSS, FGTS e qualquer dessas siglas que traduzem “segurança” e minha família acha fundamental para caracterizar alguém “que deu certo na vida” exige de mim muitas manobras. Vou te contar algumas delas para ver se você se inspira, respira, se te ajuda de algum modo. Vão numeradas para “compensar” o textão que você leu até aqui, tá?

1) Buscar fontes de renda alternativas.
Se você está sem uma fonte de renda, ou se precisa muito buscar alguma alternativa para não entrar (ou sair) do vermelho, avalie ao redor se há alguma possibilidade de você fazer dinheiro usando o que você tem. Suas habilidades, por exemplo. O fato de eu escrever e gostar disso me torna apta a buscar oportunidades de produzir conteúdo para terceiros, por exemplo, enquanto não entram os clientes pagantes de consultoria que preciso. O que você gosta de fazer? Doces, salgados, artesanato, bolo, resenha de filme? Tudo isso pode ser oferecido (e remunerado). Você precisa entrar em contato com suas habilidades e entender quais delas podem ser apreciadas (compradas, consumidas) por alguém. Acredite nelas. Essa dica é fundamental.

2) O que você tem em casa de que pode se desfazer.
Quando mudei de vida e endereço eu acabei doando boa parte das coisas materiais que tinha. Bolsas, roupas, sapatos, acessórios, moveis, equipamentos. Hoje faria tudo isso de outra forma. Venderia as coisas com mais valor. Faria bazar, usaria OLX, chamaria as amigas para um feirão em minha casa. Isso me renderia uma grana extra e de quebra faria mais feliz outras pessoas (que comprariam por um custo menor algo seminovo que você nem usou direito - por exemplo aquela esteira que anda parada na sua casa servindo de cabide de roupa).

3)Já experimentou empreender?
Franquias baratas, marketing multinível, redes de negócio. Eu descobri (porque experimentei) que não é a minha praia agora, mas pode ser para você. Pesquise opções de investimento que tenham retorno seguro e aporte inicial baixo. Cheque a reputação e credibilidade dessas marcas/empresas antes. Vá a reuniões, encontre pessoas, mas PESQUISE. Se você tem algo que pode ser vendido, ou uma grande ideia que pode ser executada (e atende a necessidade de um nicho de mercado específico), aposte nela. Essa dica serve para quem ainda tem algum dinheiro sobrando para investir ou está insatisfeito com seu trabalho atual e busca um plano B para ter uma fonte de renda (e alguma paz de espírito). Se esse não é o seu caso, NEM PENSE NISSO AGORA. Vai por mim.

4) Não se venda barato porque você está desesperado.
Essa é outra lição que estou aprendendo na dor. Se você faz algo que é tecnicamente muito bom, e inclusive tem valores de mercado que são respeitados pela maior parte dos profissionais ÉTICOS que a utilizam, SUSTENTE SEUS PREÇOS. Não se venda, como tenho visto muita gente fazendo, gerando uma competição desleal e desvalorizando o seu conhecimento, o investimento que você fez em seus estudos, sua experiência, sua história. Honre a sua bagagem. Eu, atualmente, acho que conseguira gerar renda em paz com minha consciência (e minha profissão, e meus colegas) fabricando e vendendo docinhos (não descarto essa possibilidade!) em detrimento de uma contra proposta de trabalho indecente. Sério, não entre em desespero e não abra mão dos seus princípios apelando para essa tática do leilão de preços por conta da oferta de mão de obra barata. Isso pode parecer uma solução em curto prazo, mas em médio e longo o preço dela pode ser a sua reputação.

5) Pratique e experimente a colaboração.
Existe outra moeda circulando no mundo e eu estou cada vez mais encantada e convencida de que essa é uma alternativa sábia para mim e para muitos que estão ao meu redor: a colaboração. Claro que você não vai sair por aí fazendo coisas de graça para todo mundo, mas experimente oferecer seus serviços em troca de algum outro de alguém que você precisa. Eu, por exemplo, fiz recentemente uma permuta de serviços com uma pessoa e ambas saímos ganhando, muito! Trocamos nossas habilidades, uma ajudando a outra, e o investimento que faríamos (financeiro) foi trocado por trabalho. Minha expertise e a expertise dela foram nossa moeda de toca. E eu nunca saí tão feliz de uma negociação como essa. Neste exato instante aguardo uma resposta de outro processo de “negociação” certamente convencida de outra parceria “ganha x ganha” que advirá desse processo. Experimente e abra a sua cabeça para esse novo modelo de negócios que a “crise” gera.

6) Revise o seu orçamento.
Você realmente precisa de tudo que você compra? A lista das suas despesas não pode ser ajustada? Vou dar uma dica de coisas práticas que fiz/usei para diminuir meu custo de vida que impactaram significativamente no meu orçamento. A busca por mais qualidade de vida, quando saí do mundo corporativo, foi determinante para essas escolhas. Eu vim morar num lugar com custo de vida mais barato, longe do grande centro urbano, e experimentei um modelo de consumo mais consciente. A própria mudança (sair da espiral de estresse que o mundo corporativo me proporcionava) fez com que eu diminuísse muito meus gastos gerais e comprasse menos, já que as compras são um meio de nos “compensar” pelo “sacrifício que é trabalhar”. Vou listar as outras coisas que fiz para diminuir meus custos, assim você também revisita os seus:

a) Parei de fazer compras no crédito. Você não imagina como comprar à vista e só contar com o que você efetivamente tem dá uma outra dimensão à sua vida. Fora que os juros de banco são insanos.
b) Comecei a fazer as unhas em casa. No começo é difícil, mas não desista.
c) Cortei o cabelo e voltei a tonalizar com cores mais escuras, o que me faz menos refém do salão.
d) Diminuí o meu plano de celular.
e) Perdi a vergonha de pedir as coisas que posso obter, gratuitamente, às pessoas: medicamento, por exemplo – você sabe que seu médico tem amostras grátis em seu consultório, que os laboratórios oferecem de graça para ele também, certo?
f) Parei de presentear todo mundo e querer agradar as pessoas oferecendo “mimos”.
g) Pagar a conta sozinho? Nem pensar! Eu era rainha disso! Que tal dividir? Você continuará sendo uma mulher/ homem forte se rachar as despesas com o outro, acredite!
h) Migrei meu plano de saúde para um mais barato, regional.
i) Parei de usar tanto o carro (economize com custos de manutenção e gasolina!). Se você não precisa do carro, efetivamente, considere comprar uma bicicleta ou andar a pé.
j) Use a estrutura do seu prédio ou vá caminhar no parque ao invés de gastar com academia.
k) Coma mais em casa. Cozinhe. Aprenda a cozinhar. Além de ser mais saudável, é mais barato.
l) Ah, não saia de casa com fome. Sobretudo NUNCA vá às padarias incríveis que você adora com fome. Não deixe seu estômago (ou seus olhos) falarem mais alto que seu cérebro.
m) Faça compras em atacadões. Mensal. E obedeça às necessidades da lista. Claro, revise sempre essa lista. Na minha tinha mais coisa supérflua que essencial. Tire itens e, de sobra, você ainda emagrece.
n) Verifique os preços antes de comprar. Compare. Pesquise. Cheque marcas e promoções.
o) Faça a faxina na sua casa. Sei que às vezes uma diarista ou mensalista ajuda, muito, mas em tempos de crise pegar no pesado você mesmo pode te ajudar a diminuir despesa e perder caloria. Ninguém melhor para cuidar da sua casa como você, também, né?
p) Parei de ir a todos os eventos, viagens e festa que eram socialmente impensáveis de recusar. Convido meus amigos mais íntimos e familiares para virem à minha casa, ou vou à casa deles. É uma opção inclusive mais segura, em tempos de tanta violência.
q) Recuse tudo que tentam te vender. Eu parei de dizer sim às propostas com caras de imperdíveis, inclusive promoções e descontos especiais. Hoje avalio bem se é preciso, necessário e essencial viver com aquela despesa. Isso inclui assinatura de revistas, cupons de desconto e oferta de passagens aéreas.
r) Exercício do não. Serve para todas as pessoas, especialmente amigos e familiares, para quem você não consegue dizer não se te pedem ajuda. Às vezes você precisa aprender a dizer “não” para quem ama para que possa dizer a si mesmo mais “sim”. Isso pode, inclusive, ajudar mais o outro do que você imagina. Se essas pessoas te amam mesmo, vão entender – e permanecer do seu lado. Acredite. Nesse exercício eu fui pós-graduada.

7) Negocie, negocie e negocie.
Se o seu caso já está crítico e você anda perdendo o sono com uma lista de contas a pagar, negocie o que é fundamental. Cheque os pagamentos essenciais, sobretudo os que envolvem cartões e muitos juros, e priorize eles. Negocie todos os demais. Hoje em dia as empresas estão perdendo tanto com “calotes” que uma proposta de renegociar as dívidas que você tem com elas é bem vista. Peça desconto, simule formas de pagamento que caibam no seu bolso. Em casos extremos considere empréstimos (estude e avalie BEM os juros e bancos) para quitar débitos perigosos, que podem virar bolas de neve intermináveis. Negocie muito, e sempre, sendo o mais honesto possível com todos. Faça com os outros (clientes, amigos, credores) exatamente o que você gostaria que fizessem sempre com você. Eu escolhi ser transparente e isso só me trouxe benefícios práticos em todas as negociações que precisei fazer. Negociar exige humildade. Aliás, tudo isso que listei acima exige. Se você for orgulhoso ou achar que o dinheiro te dá algum poder, sugiro que a revisão seja mais do seu modelo mental que do seu orçamento, efetivamente.

É isso.

Longe de querer dar uma de consultora financeira, apenas quero contribuir com a minha experiência para ajudar pessoas vivendo dramas que envolvem o aspecto financeiro. Tudo de mais precioso que a gente pode querer na vida está longe de se relacionar com dinheiro: tem mais a ver com o legado que você deixa, as mensagens e marcas que imprime na vida das pessoas.

O resto, como o dinheiro, passa.

Mas você não precisa ser negligente com o seu para entender que é, sim, uma energia importante da gente ter, cuidar e, sobretudo em tempos de crise, administrar melhor, certo?

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