domingo, 14 de fevereiro de 2016

Apresente-se.

Por todos os lados eu via o convite. Apresente-se.

Foi o que decidi fazer, então. Depois de um dia cheio de mensagens inspiradoras, vendo filmes daqueles que te levam a pensar “o que é que estamos mesmo fazendo aqui nesse mundo?”, desejei simplesmente me apresentar.

É o que todos estamos fazendo nesse tempo de tantas informações, não é mesmo?

Essa semana, assistindo mais uma palestra sobre criatividade, ouvi que as redes sociais não são um canal de interação, de troca – mas crescendo pela simples necessidade que todos temos hoje, mais que nunca, de dizer o que sentimos, pensamos e estamos fazendo. Precisamos nos apresentar.
É isso. Essa vida de tantas informações e expressões nos convida, o tempo inteiro, a dizer quem somos. Não só para que o outro saiba quem somos: sobretudo para que nós mesmos não esqueçamos. Porque, sim, não é fácil manter a coerência num mundo cheio de disputas em torno de ego, vaidade e interesses.

Tenho ouvido tanto que tudo é um jogo, negócio e venda que me assusto.

Daí um texto supostamente escrito por um estrangeiro sobre as falhas em nosso País (mais culturais que políticas, segundo a visão do autor) e um filme que fala do problema dos refugiados (Uma Boa Mentira, recomendo!) me fazem refletir sobre a frase que aparece no final do tal filme e já figura em minha vida há um bom tempo. Provérbio africano, esse povo maltratado e esquecido que nós, em nossos mundos cheios de preocupações
individuais, nem sempre lembramos que existe.

"Se quer ir rápido, vá sozinho. Se quer ir longe, vá em grupo."

Dentro de mim todos os temas me levam a essa reflexão: individual x coletivo.

Enquanto estou aqui preocupada em produzir conteúdos relevantes para os meus clientes e potenciais clientes, em programar a minha semana de modo que dê conta de tudo que preciso, em atender às expectativas da minha família sobre mim, em fazer minha vida de autônoma funcionar e atingir os tais resultados que preciso, muita gente está aí pela rede (essa mesma que nos abastece de tanto conteúdo que nem damos conta!) procurando formas de driblar o consumismo, o individualismo, os nossos mundos cheios de preocupações cotidianas rasas (mas não menos legítimas por isso, veja bem!), para pensar no MUNDO.

Sim, esse que nos abriga. Que está cheio de problemas com os quais devemos nos preocupar MUITO. Não porque pode nos atingir, mas porque a física quântica tem insistindo em nos sinalizar que somos parte de um mesmo todo e o que afeta uma partícula de vida do outro lado do universo pode me afetar SIM.

Tem a Zika, a Coréia do Norte, os refugiados, os judeus e palestinos, o meio ambiente gritando, as pessoas descobrindo coisas assustadoras, incríveis, tem profetas anunciando o fim do mundo, homens curando pessoas, outros se aproveitando de seus dramas para faturar, gente julgando e sendo julgada, dedos apontados, crises instauradas, corrupção sendo discutida, partidos, política, economia, religião, Olimpíada, tudoaomesmotempoagora.

No meio de tudo isso, quem é você? Quem sou eu?

Pausa. Respiro. Respira aí também e, se tiver tempo, segue lendo.

Sou Rafaela. O título que tenho, o tradicional que todo mundo vê primeiro no currículo, é o de jornalista. Se você já viu meu site também sabe que sou escritora, consultora de comunicação e lancei um livro em novembro, depois de trabalhar 17 anos no mundo corporativo e chegar à conclusão de que ter chefe não é algo pra mim. Ponto? Nem de longe.

O que você não sabe provavelmente são as coisas mais importantes. As coisas realmente preciosas eu aprendi a manter mais reservadas, mas há outras que são tão fundamentais que eu diga sobre mim quanto o fato de eu ser formada em comunicação.

Não sei quanto, por que e se isso vai te interessar, mas é importante (por alguma razão que não entendo racionalmente) que eu escreva isso hoje.

Sou uma pessoa cheia de fé. Uma inabalável, que não tem forma ou nome, mas me sustenta nos dias mais difíceis. Não são poucos. Nunca foram. Mas já foram mais graves e longos. Investir no autoconhecimento está longe de ter sido um atalho, mas foi a melhor decisão que tomei quanto o bicho pegou e entendi que sozinha não conseguiria caminhar. Nem mais rápido, nem mais longe. Simplesmente permaneceria paralisada.
Morro de medo de avião, mas voo – mesmo com medo.

Todo mundo acha que sou uma pessoa super ocupada. Esse realmente foi um rótulo que construí e sustentei por muitos anos. Minha vida era insana. Vivia colada em três celulares e pronta para atender uma ligação de trabalho a qualquer dia, qualquer hora, qualquer momento. Hoje não sou mais ocupada. Tenho tempo. Mas não quero ocupá-lo, mais e nunca mais, com gente que não me acrescenta nem coisas que não façam sentido. Hoje pouca gente e pouca coisa fazem sentido como antes. Essa decisão me tornou uma pessoa com a vida social mais reservada. Eu recebia convites para eventos todos os dias e hoje acho que a maior parte das pessoas desistiu de me convidar para eles. Eu só vou, mesmo, aos lugares onde sinto que posso fazer a diferença – ou que podem fazer a diferença em mim.

Já fui extremamente consumista, porque vivi um passado recheado de escassez, mas mudei todos os meus padrões mentais depois que me vi refém de uma vida de barganha – muito trabalho e dinheiro; pouco tempo e saúde. Não foi fácil fazer esse ajuste.

Tenho três cachorros que amo profundamente e acho que o amor dos bichos é uma das experiências mais incríveis que podemos experimentar nessa vida.

Hoje acredito muito mais na beleza da jornada, do caminho, do que na obstinação pelo final, pelo objetivo.

Já me apaixonei dezenas de vezes. A paixão é fácil, louca, linda.

Não quero me apaixonar mais depois que descobri o que é o amor.

O amor é estranho, mas é algo que se constrói com o tempo. Mais maduro, sábio, difícil. Talvez por isso tenha demorado para chegar em minha vida, para que eu pudesse experimentar. Mas é bom. Dá uma paz, ordena a bagunça. Ou bagunça aquilo que você acreditava ser ordem – e por isso mesmo te torna mais genuinamente humano.

O amor, no final das contas, é a experiência mais incrível que se pode desejar. Porque é a única coisa que faz essa bagunça toda que a gente é fazer sentido. Quando a gente ama se preocupa mais com o outro do que consigo e talvez aqui entre o ponto de flexão de todo esse imenso prólogo.

Amor.

Tudo que você precisa para experimentar o estado coletivo é aprender a amar.

E, sim, o amor é um aprendizado.

Tenho aprendido a amar Deus. E assumir isso, contra tudo que me faz imaginar que pode ser piegas ou fora de moda ter fé. Eu não sou uma pessoa de modismo mesmo. Então agora, aos 34 anos, tenho pedido a Deus para me ensinar a amar. Ele, sobre todas as coisas. Porque antes era eu e tudo que circulava ao meu redor, sustentando os meus medos.

Tem dias que acordo sem a menor noção do rumo que minha vida vai tomar. Daí aprendi que, se meditar nas palavras Dele, ou se prestar verdadeiramente atenção nas mensagens que existem em todas as coisas, eu encontro um caminho. Ou um caminho me encontra.

Neste exato momento eu estou à beira dos 7x 5, aquela fase adulta de nova transição, em que você se dá conta de que não tem filhos ou uma família tradicional, nem um apartamento, e se questiona para que mesmo está (continua) aqui.

Afinal de contas eu já plantei minha árvore e escrevi meu livro.

E esse pensamento tão egoísta se dissipa quanto vejo as raras (mas poderosas) conexões que começam a se dar ao meu redor. Todas elas envolvem colaboração.

Isso é tão novo. Tão estranho. Tão inspirador quanto desconhecido.

Eu vim ao mundo para isso? Espalhar mensagens, provocar (mais) discussões, contar história? Se for, lindo! Sigo por aqui.

Estava há pouco conversando com um amigo sobre os “e se’s” da vida da gente.

E se eu tivesse tomado outro caminho? E se eu tivesse tentado? Se tivesse permanecido? Se fosse de outro jeito, que não esse?

Não sei. Nunca saberemos. Vai saber.

Por ora o que tenho aprendido é que precisamos ser o melhor que podemos para os que estão (e permanecem, ou passam) a nossa volta.
Isso inclui nossa família, mas também os desconhecidos.

Tudo é a mesma coisa. Todos pertencemos à mesma rede.

Talvez quando a nossa compreensão sobre essa única (e poderosa) verdade acontecer, já não tenhamos mesmo mais nada o que fazer aqui.

Porque aqui, agora, só esse instante. Você, presente.

Isso requer coragem, mas eu insisto e convido você a fazer o mesmo, no(s) mundo(s) por onde você transita:

APRESENTE-SE.

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